domingo, 5 de setembro de 2010

Curiosidades Astronômicas (Parte 1)

A Estrela de Belém existiu mesmo?

           “E eis que vieram Magos do Oriente a Jerusalém, perguntado: Onde está o Rei dos Judeus, que é recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Fato científico ou figura de linguagem?

             A história conhecemos muito bem. Afinal, vem sendo contada há dois mil anos e – hoje – é uma das imagens mais marcantes da Festa da Natividade. Contudo, temos condições de saber o que de fato viram os Magos do Oriente?
            Uma das primeiras hipóteses foi proposta por Orígenes (183-254 d.C.). Ele supôs que o agora conhecido cometa de Halley teria sido o astro visto pelos Magos. Mas ao se analisar os registros dos chineses, notáveis observadores do céu, verificou-se que a tese do cometa de Halley exigiria um erro de mais de 11 anos na data atribuída ao nascimento de Cristo.
            Por outro lado, permaneceu a hipótese da Estrela de Belém ter sido um cometa não periódico, de grande brilho.

            "Tendo Jesus nascido em Belém de Judéia, em tempo do Rei Herodes, eis que vieram Magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: "Onde está o Rei dos Judeus, recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo." Mateus 2,1-2.

             No final do ano de 1572 o astrônomo dinamarquês Tycho-Brahe descobriu uma estrela muito brilhante na constelação de Cassiopéia. Na verdade seu brilho era tanto que o novo astro pôde ser visto mesmo à luz do dia, durante quase 20 meses.
             Mais tarde esse fenômeno seria batizado de nova e supernova, denominações usadas em Astronomia para designar as estrelas que explodem, aumentando assustadoramente de brilho e depois de algum tempo quase desaparecem do firmamento.
             Contemporâneos de Tycho-Brahe viram no astro a mesma estrela que teria guiado os Magos, enquanto outros afirmavam que o fenômeno anunciava a chegada de um segundo Salvador.
            Astrônomos encontraram ocorrências de novas na primavera do ano 5 a.C., ano que não está em contradição com o provável nascimento de Jesus, que segundo os teólogos deve ter ocorrido entre os anos 5 e 7 a.C. e não no ano 1, como é comum imaginar. A hipótese da nova, ou supernova, encontra adeptos até os dias atuais.

Essa nebulosa foi tudo o que sobrou da explosão de uma estrela da constelação do Touro.

            Astros brilhantes, como o planeta Vênus – a conhecida Estrela d´Alva – Júpiter e Saturno podem aparecer no céu em posições que nos dão a ilusão de aproximação, fazendo com que seus brilhos se somem.
            Os astrônomos chamam isso de conjunção planetária. Uma conjunção tríplice é a sucessão de três aproximações aparentes de dois planetas e, para alguns pesquisadores, este fenômeno de grande importância astrológica pode ter sido a Estrela de Belém. 
            Parece difícil chegar a qualquer conclusão sobre o assunto. A própria concepção dos três Reis Magos é deficiente. Surgiu no século VI d.C., quando seu número foi fixado devido a natureza de seus presentes. Mas segundo a tradição oriental, foram 12 os Magos que visitaram Jesus. Será, enfim, que eles existiram?
            Naturalmente, tais impasses só enriquecem o pensamento humano, ávido pela compreensão não somente da natureza de possíveis fenômenos naturais, mas pelo próprio sentido de nossa existência neste mundo.



E se um asteróide colidir com a Terra?

            Estamos preparados? O que as autoridades tem feito a respeito? Aquele asteróide noticiado pela mídia vai mesmo bater na Terra na próxima década? Descubra as verdades e os mitos por trás dessa ameaça constante.

             Não há nenhum planeta-gigante-vermelho vindo em direção a Terra. Se você ouviu essa história em algum lugar, esqueça. É sensacionalismo barato. A verdadeira ameaça vem de rochas muito menores, do tamanho de uma montanha, escuras e difíceis de detectar. Como Apófis.
             Esse asteróide de 350 metros de largura foi anunciando em dezembro de 2004 como tendo uma chance de 0,3% de colidir com a Terra em 13 de abril do ano 2029. Embora a possibilidade pareça insignificante, ele foi o primeiro a atingir o nível 2 da escala de Torino, que classifica o perigo associado a asteróides e cometas (veja abaixo).


             Torino impact hazard scale

Difícil previsão
 
              Atualmente, somos capazes de identificar com eficiência asteróides com pelo menos um quilômetro de extensão, embora os menores também sejam perigosos. Determinar se podem nos atingir numa passagem futura, contudo, é sempre um desafio ainda maior.
           É que essas “montanhas voadoras” precisam ter suas trajetórias orbitais muito bem determinadas. Somente então faz sentido a aplicação das equações que fornecem suas posições futuras, e que consideram a interação gravitacional com corpos mais massivos nas redondezas, como planetas – o que altera novamente seus rumos, num intrincado trânsito orbital que pode acabar em trombada.
             Muitas vezes os astrônomos tem informações apenas sobre um pequeno fragmento orbital, colhido em poucos dias de observação. Refinamentos posteriores geralmente alteram as previsões iniciais. Foi o que aconteceu com Apófis. Mesmo assim sua passagem em 2029 será um rasante tão próximo (menos de um décimo da distância Terra - Lua) que ele poderá ser visto a olho nu.

             "É uma lei da natureza que a Terra e todos os outros corpos permaneçam em seus devidos lugares e deles sejam deslocados apenas por meio da violência." Aristóteles (384-322 a.C.), FÍSICA


Evitando o pior

             Na pior das hipóteses, ele atinira a Terra na passagem seguinte, em 2036. O mais provável é que não represente uma ameaça, mas ainda assim seria bom que pudéssemos nos precaver de alguma forma. E as propostas já existem.
            A Agência Espacial Européia (ESA) escolheu Apófis e mais outro asteróide para uma operação de desvio de trajetórias orbitais que está sendo chamada de Missão Dom Quixote.
              O asteróide (10302) 1989 ML, de 600m de diâmetrro e cuja órbita fica entre Marte e a Terra, receberá a visita das naves Sancho e Hidalgo para testar a manobra pela primeira vez.
              Hidalgo, homenagem ao cavaleiro errante criado pelo espanhol Miguel de Cervantes, colidirá com o asteróide escolhido, enquanto Sancho, o fiel escudeiro do herói, observará a colisão, documentando a mudança de trajetória.
              Os americanos também estudam utilizar um rebocador espacial que atracaria com a superfície do asteróide ameaçador. Um empurrão lento durante uns três meses na direção do seu próprio movimento orbital seria suficiente para resguardar a Terra de um impacto (o aumento da velocidade orbital expande a órbita de um corpo, mudando seu rumo).
O asteróide 2004 MN4 ficou
conhecido como Apophis
(ou Apófis) após ser consi-
derado o objeto celeste mais
ameaçador já descoberto.
É o nome de uma divindade
egípcia em forma de serpente,
senhor da destruição e do caos.

              Tudo deve ser testado o mais rápido possível – com asteróides conhecidos. Os programas de patrulhamento celeste devem ser ampliados e aperfeiçoados. Somente com antecedência de pelo menos uma década poderemos fazer alguma coisa.

Vizinhos perturbados

             Esses corpos celestes não vêm de longe, de fora do nosso sistema planetário. Pelo contrário, são “habitantes” da parte rasa do Sistema Solar, vagando ao redor do Sol em trajetórias elípticas geralmente internas à órbita de Júpiter.
             Eles não são grandes como planetas, mas são muitos. A história geológica da Terra – e a superfície esburacada da Lua – guardam marcas de encontros pouco amigáveis no passado. Hoje não se conhece nenhum cuja colisão com o nosso mundo seja certa. Mas é certo que um dia acontecerá de novo.


             Diagrama mostra a aproximação de Apófis em 2029. O traço branco, perpendicular a trajetória, representa as posições alternativas para o asteróide nessa data. Em nenhum caso ele colide com a Terra. O rasante é visto a olho nu da Europa, África e Ásia ocidental. Adaptado do diagrama de Paul Chodas/NASA/JPL.



No próximo capítulo.......


Por que existem anos bissextos?

             Não basta dividir por quatro. A regra para se determinar se um ano é bissexto é mais elaborada – e tem a ver com o fato do período de translação da Terra em torno do Sol não ser exato.


O que é magnitude?

             Por que não está certo dizer que o Sol é uma estrela de quinta grandeza?
Conheça a escala que mede o brilho dos corpos celestes.



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